07/07/2014
Empresas não relatam sinais de recuperação.

A queda de 1,6% da produção industrial até maio dificilmente será revertida neste ano e começa a afetar o emprego no setor. Essa é a percepção da maioria dos 14 empresários e diretores de associações industriais ouvidos pelo Valor. O desaquecimento da demanda, a formação de estoques e a menor expansão do crédito se combinaram à redução de dias úteis por causa da Copa do Mundo e apontam para um segundo trimestre bastante fraco.

 

Setores mais ligados aos investimentos, como o de máquinas e equipamentos, afirmam que as encomendas estão em marcha lenta, um mau sinal para os próximos meses. A produção de veículos, outro ramo que costuma adicionar dinamismo à indústria, também não mostrou reação, enquanto as vendas parecem ter sido mornas em junho, com o esvaziamento das lojas por causa dos jogos.

 

A Copa, entretanto, não pode ser culpada pelo mau desempenho da indústria. Para o setor elétrico, os dias parados podem ter até ajudado a reduzir estoques. A MAN Latin America, fabricante de caminhões e ônibus, deu férias coletivas desde o dia 16 de junho, por causa do elevado número de veículos nos pátios, enquanto a Esmaltec, principal fabricante de eletrodomésticos da linha branca no Nordeste, atribui o fraco desempenho ao excesso de produtos parados no varejo.

 

No setor automobilístico, o quadro é pouco favorável. Segundo o IBGE, a produção de veículos caiu 12,5% até maio, na comparação com o ano passado e as vendas não dão sinais de recuperação. Em junho, elas foram prejudicadas, em boa parte, pelo menor fluxo de consumidores nas concessionárias em razão dos jogos da Copa.

 

Além das paradas durante as quatro partidas da seleção brasileira, os números foram afetados por feriados. Em junho, as vendas recuaram 17,3% ante igual período do ano passado e, no ano, a queda é de 7,6%, de acordo com a Fenabrave, entidade que reúne as revendas de veículos. Nesse cenário, o setor está cortando a produção e administra o excesso de mão de obra com medidas como adiantamento de férias coletivas e afastamento temporário de operários ("layoff").

 

As ferramentas de flexibilização, contudo, começam a se esgotar, levando a um número crescente de demissões. Segundo a Anfavea, a entidade que representa os fabricantes de veículos, as montadoras eliminaram 4,7 mil vagas nos cinco primeiros meses do ano.

 

Na MAN, a produção continua parada e os trabalhadores só devem retornar ao trabalho na fábrica de Resende, no Rio, nesta semana. O objetivo é diminuir os altos estoques da montadora, afirma o presidente da empresa, Roberto Cortes. Até maio, diz, a produção do setor caiu cerca de 12% em relação ao igual período do ano passado, taxa que deve ser mantida até o fim do ano. O setor de caminhões está com estoques em torno de 50 dias, enquanto o ideal seria algo próximo a 27.

 

O acúmulo de produtos também é um problema para a indústria de eletrodomésticos. A cearense Esmaltec , principal fabricante de itens da linha branca no Nordeste, descreve cenário preocupante para seus negócios. De acordo com Annette Reeves, superintendente da empresa, junho foi um dos piores meses da empresa nos últimos quatro anos.

 

"Tivemos pedidos suspensos, o varejo está estocado e, consequentemente, os estoques estão elevadíssimos na indústria. A Esmaltec optou por dar férias coletivas nesse período", informou a superintendente, ao lembrar que a empresa já fez corte do quadro de pessoal. "Caso não exista uma retomada na demanda para os nossos produtos, poderemos considerar reduções adicionais", disse.

 

Em Pernambuco, a fabricante de baterias Moura foi afetada pelo fraco desempenho do setor automobilístico. No primeiro semestre, a empresa registrou queda superior a 10% no fornecimento de baterias para o segmento. Na produção total, entretanto, houve crescimento de 5% no período. O diretor financeiro, Thiago Passos, diz que o avanço foi garantido pelo mercado de reposição, mas projeta desaceleração na segunda metade do ano e crescimento no ano entre 3% e 5%.

 

Com o menor dinamismo da atividade doméstica, a movimentação de caminhões nas rodovias, historicamente atrelado à atividade industrial no país, tem desacelerado na comparação com um ano antes e, pela primeira vez em quase quatro anos e meio, chegou a registrar queda. No semestre encerrado em maio, o Índice ABCR (compilado pela Tendências Consultoria em parceria com a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias) caiu 0,11%.

 

"No nosso caso, estamos percebendo um terceiro trimestre aquém da expectativa", diz Oswaldo Castro Júnior, diretor-geral da empresa de logística Golden Cargo. Osni Roman, presidente da Coopercarga, afirma que a empresa analisou os contratos em relação ao ano passado e percebeu retração. "Há um desaquecimento, com vários setores com demanda contraída".

 

Setores mais dependentes do quadro de investimentos na economia também se mostram pouco otimistas. Em máquinas e equipamentos, os últimos meses foram de retração das vendas. As carteiras de pedidos das companhias estão neste ano com um período médio de 3,3 meses, muito abaixo dos 5,1 meses de 2010, considerado um tempo razoável.

 

Pouco confiantes em uma retomada da demanda por máquinas no segundo semestre, o setor deposita as fichas em uma melhora no ano que vem. A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) espera queda de dois dígitos no faturamento do setor neste ano. Até maio, a queda foi de 13,6% em relação a igual período de 2013.

 

Segundo Mário Bernardini, economista da Abimaq, a Copa do Mundo não é a explicação para a retração. O que existe é uma tendência de redução de investimentos produtivos. "O país está reduzindo o volume de investimentos. Não há projeção de um bom crescimento econômico neste ano."

 

Luiz Cezar Rochel, gerente do departamento econômico da Abinee, a associação dos fabricantes de eletroeletrônicos, também diz que o ambiente econômico, de inflação alta e elevada incerteza dos empresários, prejudica o quadro para investimentos e afeta a atividade no setor. Apesar dos estímulos dados pelo governo à construção civil, como o programa Minha Casa, Minha Vida, há redução das vendas dos segmentos de materiais elétricos de instalação.

 

Em função do cenário atual, o segmento começa a reduzir o quadro de funcionários. Em maio, houve 540 demissões, interrompendo o ciclo de contratações nos quatro meses anteriores. Para Rochel, não há sinal de forte reação do setor no segundo semestre. Em sondagem realizada pela Abinee, a proporção de associados que esperava encerrar o ano com avanço de produção, que era de 70% no início do ano, passou para 50%.

 

A Abiquim, que reúne representantes da indústria química, avalia que será difícil reverter a queda de 7,1% da produção observada até maio. A previsão mais otimista do setor, neste ano, é de estagnação em relação ao ano passado.

 

 

Fonte: Valor Econômico. 
 
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