24/03/2014
Quem precisa de financiamento bancário?

Muitas companhias vêm tentando usar a tecnologia para melhorar os empréstimos a pequenas empresas. Dados, informações recolhidas dos comerciantes a partir de seus perfis na mídia social, softwares de contabilidade online e análises são usados pelos bancos na hora de conceder empréstimos.

Empresas alternativas como a OnDeck e a Kabbage estão conseguindo aumentar seus volumes de crédito e acelerar o processo de aprovação. Mas seus empréstimos custam mais que os dos bancos ou dos cartões de crédito - às vezes muito mais.

A Lending Club e a PayPal agora estão apostando que a alta tecnologia também pode reduzir os custos dos empréstimos paras as empresas que não conseguem empréstimos junto aos bancos. A Lending Club, a financeira "peer-to-peer" que caminha para abrir o capital no fim deste ano, lançou na semana passada programa de empréstimos a pequenas empresas. E a PayPal (da eBay) anunciou na sexta-feira que vai ampliar um programa que já forneceu "dezenas de milhões de dólares" em capital de giro para empresas que usaram seus serviços nos últimos seis meses.

A Lending Club é a gigante no mundo dos empréstimos "peer-to-peer" (intercâmbio entre inúmeras pessoas): a companhia de San Francisco sempre operou como um mercado onde investidores podem financiar empréstimos ao consumidor e afirma gerar operações ao ritmo de US$ 750 milhões a cada três meses. Agora, ela também vai facilitar os empréstimos comerciais envolvendo volumes que vão de US$ 15 mil a US$ 100 mil.

Os donos de pequenas empresas podem se inscrever online para a obtenção de empréstimos com prazos de um a cinco anos, com juros que vão de 5,9% a 29,9%, segundo a Lending Club. Seu executivo-chefe, Renaud Laplanche, diz que o juro médio será de 12,5%.

Por enquanto, os investidores comuns não podem bancar empréstimos a pequenas empresas na Lending Club. O programa está limitado a investidores institucionais como fundos de hedge, companhias de seguros e escritórios que administram fortunas familiares, mas em algum momento a companhia pretende permitir que todos invistam. Esses investidores fornecem o capital para os empréstimos e recebem de volta os pagamentos de juros. Os tomadores pagam à Lending Club uma taxa de abertura de crédito que varia de 1% a 5%, além dos juros.

O Lending Club não é a primeira empresa a testar um esquema de empréstimos "peer-to-peer" entre pequenas empresas. SoMoLend e Funding Community tentaram e fracassaram; Funding Circle e Dealstruck estão atualmente fazendo uma tentativa. E não são apenas financiadoras "peer-to-peer" as únicas iniciativas não bancárias tentando oferecer taxas inferiores às de empresas que adiantam dinheiro aos comerciantes, que podem levar os juros anuais reais de 30% para um patamar de três dígitos. Financiadoras criadas mais recentemente, como a Fundation, e empresas existentes, como a OnDeck, também lançaram linhas de empréstimos que podem ser competitivas com os juros cobrados pela Lending Club.

Permitir que fundos de hedge e outros investidores institucionais invistam diretamente em empréstimos concedidos a pequenas empresas na Lending Club não representa uma grande mudança, diz Peter Renton, um destacado blogueiro especializado no tema de empréstimos "peer-to-peer" e que recentemente criou um fundo de investimentos. "Toda pequena empresa já tem um investidor institucional como seu financiador", diz ele.

A maior mudança virá quando o Lending Club abrir para investidores comuns sua plataforma de empréstimos destinados a pequenas empresas, diz Renton, o que permitirá que as pessoas reúnam-se em esquemas de "crowdfunding" (financiamento coletivo) para conceder empréstimos em dinheiro a suas comunidades locais. "Eu acredito realmente que é assim que empresas que estão um nível abaixo de (possível acesso a) um empréstimo bancário captarão empréstimos ", diz ele. "As pessoas querem financiar em suas comunidades locais."

A PayPal está oferecendo um produto mais especializado. Em setembro, a empresa lançou um programa piloto para oferecer capital de giro a comerciantes que usam seu sistema de pagamentos online por intermédio de um banco de Utah. Os comerciantes podem tomar empréstimos de até 8% do total de seu faturamento anual junto ao PayPal e o crédito é amortizado em parcelas diárias até que a empresa tenha quitado o principal, acrescido de uma taxa fixa por operação.

Num exemplo apresentado pela empresa, um comerciante com US$ 100 mil em vendas anuais toma um empréstimo de US$ 8 mil; a PayPal cobra do tomador 15% de suas vendas diárias até recuperar os US$ 8 mil, mais juros totalizando US$ 594, ou cerca de 7% do principal.

Brian Grech, gerente de portfólio desse programa na PayPal, diz que a empresa tem dados suficientes sobre sua clientela de comerciantes para tomar boas decisões sobre quem financiar. A companhia também tem um incentivo que a maioria das financeiras não tem: Se um comerciante vinculado à PayPal expande seu negócio, esse comerciante provavelmente vai receber mais pagamentos via PayPal, gerando mais taxas de intermediação de transações para a própria PayPal. Grech não quis dizer quanto dinheiro a PayPal planeja emprestar. Mas ele considera o programa "permanente" e diz que gostaria de aumentar o valor dos empréstimos e testar a concessão de empréstimos a comerciantes que não usam o PayPal, como forma de atrair novos clientes para seu sistema de pagamentos.

Fonte: Valor Econômico
 
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