05/03/2014
Executivos brasileiros usam trabalho temporário para aprimorar gestão.

Que seja eterno enquanto dure. Aplicada ao mercado de trabalho, a máxima nos dá a entender que um trabalho temporário de gestão de projeto é mais que um relacionamento superficial, ainda que não resulte, necessariamente, em casamento. Para os brasileiros, esse vínculo significa não apenas um meio de se manter em atividade e aumentar as chances de encontrar uma posição permanente, mas também uma fonte de treinamento e desenvolvimento de habilidades.

A conclusão é de um estudo global da consultoria especializada Page Interim, feito com 13.298 profissionais e empresas de 17 países das Américas, da Europa e da Oceania ao longo do ano passado. No Brasil, 89,3% dos entrevistados veem na vaga temporária a chance de ser treinado, percepção manifestada por 68,9% dos suecos e 63,5% dos mexicanos. Entre os brasileiros, 85,5% consideram essas oportunidades como uma forma de desenvolver competências, ante 79,7% dos portugueses e 77,1% dos belgas.

O trabalho temporário também é visto como uma maneira de estar empregado em tempos de incerteza econômica, principalmente em Portugal, Luxemburgo, Suíça e Estados Unidos. Desenvolver uma rede profissional, por outro lado, é um importante fator de motivação para suecos, suíços e belgas.

De acordo com Carolina Asevedo, diretora da Page Interim no Brasil, nossos profissionais integram projetos temporários de gerenciamento por enxergarem neles as possibilidades de aprender culturas corporativas diferentes e de realizar tarefas desafiadoras. Como exemplo, menciona o caso de um diretor financeiro contratado para conduzir a fusão entre duas empresas e o de um diretor de recursos humanos com a incumbência de cobrir uma licença-maternidade em um momento de integração de várias unidades de negócio da companhia.

Dentre as maiores motivações que levam as empresas brasileiras a contratar gestores temporários estão a de responder a necessidades de curto prazo (95,3%), garantir maior flexibilidade (82,6%) e identificar candidatos para posições permanentes (77,2%). Essa última proposição se evidencia no dado apurado de que 37,9% dos temporários no Brasil receberam uma proposta de contrato permanente ao final do projeto de que participaram, ante uma parcela de 23,1% a nível global.

Se os profissionais buscam nas companhias o que elas têm a oferecer em termos de conhecimento, a recíproca também é verdadeira. Muitas delas - 49,1% globalmente e 38,9% no Brasil - investem no trabalho temporário para adquirir a expertise dessa mão de obra.

Em relação aos profissionais transitórios, a grande preocupação das empresas, segundo Carolina, é o comprometimento. "O brasileiro não está tão acostumado com a mão de obra temporária quanto o europeu e o americano. Assim, existe a desconfiança sobre a permanência até o fim do período acordado". Em contrapartida, diz a consultora, nos patamares executivos o nível de engajamento costuma ser bem maior que o de categorias menos elevadas da hierarquia. "O profissional dificilmente sai no meio do trabalho."

O levantamento da Page Interim aponta que 83,6% dos temporários se sentem integrados durante o período de atuação e muitas vezes eles carregam a responsabilidade pela administração total do projeto - isso acontece em 38,3% das ocasiões no Brasil e 28,6% na média global.

Tal carga de compromisso se reflete no pagamento pelo trabalho. "O gestor temporário tem benefícios e remuneração equivalentes aos do efetivo, pois a posição a ser ocupada requer um profissional do mesmo porte", afirma. Nos casos em que seu desempenho agrada bastante a empresa, ele pode inclusive receber bônus e gratificações.

A Page Interim informa que recrutou, em 2013, cerca de 550 temporários para projetos em companhias instaladas no Brasil, um número 30% maior que o registrado em 2012. As áreas que mais demandaram foram a financeira, a administrativa, a comercial e a de recursos humanos. Para os próximos anos, a expectativa é de aumento da necessidade de trabalho temporário e também do terceirizado para 28,7% das organizações e 57,3% dos profissionais brasileiros.

Apesar das vantagens apontadas pelos profissionais brasileiros no que diz respeito a essas vagas - caso da chance de aprendizado -, na média eles avaliam como positivo ou muito positivo o trabalho temporário em uma proporção menor (52,6%) que a média mundial (58,9%). Os australianos lideram o ranking da positividade (78,6%), seguidos de suecos (73,4%) e franceses (71,8%).

Esse tipo de trabalho é regulado no Brasil pela lei nº 6.019/1974 e pelo decreto nº 73.841, do mesmo ano. Na comparação com empregados efetivados, explica Filipe Mota, procurador jurídico da Asserttem (Associação Brasileira do Trabalho Temporário), os temporários têm remuneração semelhante, bem como os direitos de repouso semanal remunerado, férias proporcionais, indenização por dispensa sem justa causa, FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e registro em carteira.

"Seu contrato é de três meses, podendo ser prorrogado por mais três com autorização do Ministério do Trabalho e Emprego", diz Mota. A terceirização não se enquadra nessa lei. O temporário, ao contrário do terceirizado - que presta um serviço -, tem vínculo empregatício com a empresa.

Fonte: Valor Econômico
 
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